O que define um serial killer? Entenda o que dizem especialistas sobre Ana Paula Veloso, suspeita de matar quatro pessoas por envenenamento

  • 15/10/2025
(Foto: Reprodução)
Estudante de Direito é suspeita de envenenar e matar pelo menos quatro pessoas O caso da estudante de Direito apontada pela polícia como “serial killer” e investigada em São Paulo despertou uma dúvida entre leitores do g1 nos comentários das reportagens: afinal, quais são os critérios para usar esse termo? Não existe uma definição científica nem legal no Brasil, mas autoridades brasileiras e estrangeiras que pesquisam o tema, procuradas pelo g1, apontam dois fatores básicos no que eles classificam como "serial killers". O número de vítimas: o critério mais óbvio é que haja mais de um assassinato. Dois já são suficientes para a classificação dos especialistas. O intervalo entre as mortes: este fator é importante. Precisa haver um "período de resfriamento", que diferencia um "assassino em surto" (que matou várias pessoas em uma só ocasião) de um "assassino em série" (que cometeu um assassinato, retornou à vida normal e depois voltou a matar). De acordo com as investigações da Polícia Civil de SP, Ana Paula Veloso Fernandes matou quatro pessoas, todas envenenadas, em um período de cinco meses: o dono do imóvel em que morava com a irmã gêmea, uma amiga, um aposentado e o namorado tunisiano. O delegado afirmou que Ana Paula demonstrava "prazer em matar", um dos fatores que levou os investigadores a classificá-la como uma "serial killer". A reportagem do g1 ouviu a escritora brasileira Ilana Casoy, uma das maiores referências brasileiras em criminologia -- ciência que estuda o comportamento criminoso -- e a Dra. Marissa Harrisson, professora de psicologia da Penn State University, nos EUA, e autora do livro "Tão mortal quanto: a psicologia das assassinas em série", publicado pela Cambridge University Press. O que coloca Ana Paula Veloso dentro da discussão sobre assassinatos em série é o padrão de comportamento: o que define o “serial killer” não é o prazer no ato, mas a repetição de homicídios com intervalo entre eles, afirmam as especialistas. “São dois ou mais assassinatos cometidos em momentos distintos, com uma assinatura própria. Um ritual que revela as mesmas necessidades psicológicas, mesmo quando o modo de agir é diferente", explica Ilana Casoy, criminóloga especialista pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim). "Esse conjunto entre o ritual e o modus operandi é a assinatura particular de cada um. Esses crimes têm que ter acontecido em eventos separados, em datas diferentes, com algum intervalo de tempo relevante entre eles." Leia também VÍDEO: Serial killer sorri e dissimula reação ao receber notícia de vizinho morto em SP, diz polícia O que define um serial killer? De acordo com o Relatório Anual da Radford University, um ' serial killer', ou assassino em série, é quem mata duas ou mais pessoas em eventos separados, independentemente do motivo. Atualmente, o banco de dados é a maior base não governamental de assassinos em série do mundo, com informações sobre mais de 5 mil assassinatos em série de diversos países e um total de 15.088 vítimas. Em resposta ao g1, o autor do relatório, Michael Aamodt, afirmou que o caso de Ana Paula se enquadra na definição do FBI (serviço de investigação federal dos EUA) e do banco de dados, uma vez que envolve quatro assassinatos cometidos em momentos distintos. "Um critério comum de análise é verificar se o assassino retomou suas atividades normais entre os homicídios. No caso do nosso banco de dados, se todas as mortes ocorreram no mesmo dia, independentemente do número de locais, consideramos a pessoa um assassino em surto, e não um assassino em série." De acordo com o FBI, a expressão “serial killer” tem caráter técnico, não jurídico. Ou seja, é uma classificação comportamental usada por investigadores e analistas de perfis criminais que descreve o assassino em série como “o autor de dois ou mais homicídios cometidos de forma ilícita, em eventos separados”. Além do requisito de um dia, há também o que especialistas chamam de "período de resfriamento", o intervalo entre uma morte e outra em que o assassino volta temporariamente à rotina, até cometer um novo crime. A formulação do FBI orienta investigações e bancos de dados internacionais, como o da Universidade de Radford, que segue os mesmos critérios. Por que termo não aparece no Código Penal? No Brasil, não existe tipificação penal específica para “serial killer”, o que significa que o termo não aparece no Código Penal, mas pode ser adotado como classificação criminológica para orientar investigações e análises de comportamento. Ilana Casoy lembra que há um projeto de lei de 2010, apresentado pelo então senador Romeu Tuma, que tentava incluir a figura do assassino em série na legislação brasileira. Ainda segundo a especialista, o texto “precisaria de correções” para se alinhar às definições do FBI, que hoje consideram dois ou mais homicídios em eventos separados. "Não precisa inventar a roda. Já sabemos o que é [serial killer], já sabemos como funciona e podemos aproveitar esse conhecimento adquirido por outros países", defende Casoy. A criminóloga explica que, apesar da ausência de tipificação, o termo “serial killer” é válido como classificação comportamental, usada para compreender o padrão de repetição, o método e a escolha das vítimas. Embora a leitura ajude a polícia e os peritos a traçar perfis investigativos mais precisos, não deve ser confundida com diagnósticos psiquiátricos. “Serial killer é uma definição de comportamento criminoso, não de doença mental”, afirma. “Quando dizemos ‘fulano é homicida, latrocida, estelionatário’, estamos falando de conduta e padrão de ação, não de distúrbio psicológico.” Segundo a criminóloga, compreender essa diferença é fundamental para evitar interpretações equivocadas que ligam automaticamente o assassinato em série à insanidade. “O doente mental é responsável por menos de 5% dos crimes em série. A maior parte desses casos nasce de motivações simbólicas, sociais ou de poder”, explica. 'Serial cúmplice': gêmeas suspeitas de assassinato Casoy e Harrison também chamam atenção para um aspecto inédito do caso de Ana Paula: a existência de uma “serial cúmplice”, como a criminóloga define a irmã gêmea da suspeita. As irmãs gêmeas Roberta Cristina Veloso Fernandes (à esquerda) e Ana Paula Veloso Fernandes (no centro) estão presas por homicídios Reprodução Os investigadores apontam que Roberta Veloso Fernandes, irmã gêmea de Ana Paula, teria ajudado a preparar os alimentos envenenados e acompanhado parte da rotina das vítimas, ainda que não estivesse presente em todas as mortes. “A irmã dela é o que se chama de 'serial cúmplice'. Uma pessoa que pode não participar realmente do momento do assassinato, mas estava presente o tempo todo.” Segundo Michael Aamodt, autor do relatório anual da Universidade de Radfor, o tipo de caso é classificado como “Serial-Team”, uma das subcategorias previstas no relatório para crimes praticados em duplas ou grupos organizados. A investigação ainda vai determinar até que ponto as duas irmãs compartilham responsabilidade pelos homicídios atribuídos ao grupo. O que diz a defesa? A defesa das irmãs informou que ainda não há provas concretas do envolvimento das duas nos crimes pelos quais são acusadas. "Reconhecemos a gravidade dos fatos investigados e a comoção social que geram. No entanto, o dever desta defesa é acompanhar a investigação com a seriedade e a discrição exigidas, zelando estritamente pelos direitos de Ana Paula. Nesta fase, em que as provas ainda estão sendo formadas e examinadas, não é possível, e (seria temerário), afirmar ou negar categoricamente qualquer tese defensiva", informa trecho da nota do advogado Almir da Silva Sobra, que defende Roberta e Ana Paula.

FONTE: https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2025/10/15/o-que-define-um-serial-killer-entenda-o-que-dizem-especialistas-sobre-ana-paula-veloso-suspeita-de-matar-quatro-pessoas-por-envenenamento.ghtml


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